Torres dos Santos AF, Boscollo Ragassi TC, Da Cruz Franchini C
Departamento de Farmácia. Fundação Hermínio Ometto. Id. Universitário FHO. Araras. São Paulo (Brasil)
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Rev. OFIL 2016, 26;4:307-313
Fecha de recepción: 03/02/2016 – Fecha de aceptación: 01/08/2016
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Correspondencia:
Ana Flávia Torres dos Santos – Tawani Cristina Boscollo Ragassi
Fundação Hermínio Ometto
(Departamento de Farmácia)
Av. Dr. Maximiliano Baruto, 500
Id. Universitário FHO
13607-339, Araras, São Paulo (Brasil)
Correo electrónico: anaf.torres@hotmail.com – cristinafranchini@uniararas.br
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Resumo
A assistência farmacêutica surgiu como alternativa para melhorar a utilização e conscientizar sobre o uso racional e correto de medicamentos. A automedicação não responsável é uma prática comum, onde o próprio paciente decide o medicamento que vai utilizar. Este estudo avaliou o método de prescrição e dispensação de medicamentos realizados em uma Unidade Básica de Saúde (U.B.S.) na cidade de Araras/SP segundo a concepção do usuário quanto ao aspecto da relação médico-dispensador-usuário. Foram analisados dados obtidos a partir da resposta do questionário de 100 voluntários com idade entre 18 a 60 anos que frequentaram a U.B.S. durante os meses do estudo. A demanda de pessoas que buscam o setor público nesta região é alto. Porém, a qualidade desses atendimentos não ocorre de forma integral. Quanto ao ato médico, 51,6% dos usuários, afirmaram que o médico fez perguntas sobre alergias a medicamentos e 53,2% sobre a possibilidade de estar usando outras medicações. Observou que os médicos orientaram em 79,0% das ocasiões sobre a forma correta do uso dos medicamentos, em 58,1% sobre a importância de cumprir o tratamento farmacológico. Sobre a aquisição de medicamentos, o balconista foi o maior responsável pela dispensação (50%). Os resultados obtidos revelaram índices insatisfatórios no processo de prescrição correta e orientação ao paciente por parte dos médicos e dos profissionais da farmácia. É necessário que haja aperfeiçoamento, treinamentos e palestras para conscientização desses profissionais garantindo uma melhoria no atendimento ao paciente. Também faz-se necessário um maior elo entre médicos e farmacêuticos, para melhor atender seu público.
Palavras chaves: Medicamento, prescrição, usuário.
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INTRODUÇÃO
Mesmo com os avanços da política de assistência farmacêutica, atualmente ainda se encontram diversos problemas que comprometem o acesso da população aos medicamentos e ao uso correto dos mesmos, por isso a importância da Assistência Farmacêutica Básica faz-se necessária. Esta é entendida como um conjunto de atividades relacionadas ao acesso e ao uso racional de medicamentos, destinado a complementar e apoiar as ações da Atenção Básica à saúde1.
Em 2004 o Conselho Nacional de Saúde publicou a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF) que é definida como “Um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e seu uso racional…”2.
Por meio da Portaria nº 533 de 28 de Março de 2012, que estabelece o elenco de medicamentos e insumos da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), observa-se os avanços que ocorreram na política de assistência farmacêutica. A RENAME consiste em uma lista de referência de medicamentos que deve nortear a oferta, a prescrição e a dispensação de medicamentos3.
Os gestores utilizam a relação de medicamentos que são selecionados com base em critérios de eficácia, segurança e custo-efetividade para preparar as listas de medicamentos financiáveis que fazem parte dos programas de assistência farmacêutica e serve para sinalizar ao setor produtivo qual demanda deva ser suprida4.
Melhores condições de saúde não estão necessariamente ligadas ao acesso à assistência médica e aos medicamentos, pois as falhas na dispensação, maus hábitos prescritivos e automedicação inadequada podem levar a tratamentos ineficazes e pouco seguros. Mas, ao contrário, receber tratamento adequado (necessário, eficaz e seguro) sempre que necessário, reduz a incidência de agravos à saúde e a mortalidade para muitas doenças5.
Em Araras/SP, o ano de 2000 foi marcado pelas primeiras atividades para a implantação de um Programa de Assistência Farmacêutica e paralelamente foram aperfeiçoados componentes operacionais de logística de medicamentos que são indispensáveis à boa administração dos sistemas de fornecimento de fármacos aos usuários do SUS6.
Este trabalho teve como objetivo avaliar através da percepção do usuário a prática dos profissionais médicos e farmacêuticos durante a prescrição e dispensação de medicamentos no setor público de saúde, assim como identificar se Atenção e Assistência Farmacêutica são aplicadas propondo melhorias na qualidade da prescrição e dispensação de medicamentos.
MÉTODOS
Foram analisados dados obtidos a partir da entrevista de 100 voluntários na faixa etária de 18 a 60 anos de idade de ambos os sexos que frequentaram a U.B.S. “Osvaldo Salvador Devitte” na cidade de Araras/SP, durante os meses de maio à setembro de 2015. Todos os participantes foram esclarecidos sobre o objetivo deste estudo e aqueles que concordaram em participar assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido – TCLE. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com parecer sob o número 1039806.
Os voluntários foram submetidos ao questionário composto de informações como sexo, idade, histórico de doenças crônicas, posse de plano privado de saúde e as práticas do médico no ato da prescrição de medicamento da sua última consulta médica, assim como as práticas de trabalho dos profissionais que dispensaram os medicamentos efetuados tanto nas farmácias da rede pública deste município, quanto drogarias particulares.
Com relação ao comportamento médico-usuário foram coletadas as seguintes informações: data aproximada da última consulta médica, local da consulta (setor público ou privado) e se houve prescrição de algum medicamento. Caso afirmativo, perguntava-se sobre a conduta antes e depois da emissão da receita. Foi questionado se, antes de realizar a prescrição, o médico fazia perguntas ao paciente sobre possível alergia a algum tipo de medicamento e se estava fazendo uso de outros medicamentos. Foi avaliado também se, após a emissão da prescrição, o médico havia orientado quanto à forma correta de tomar o medicamento, as possíveis reações adversas ao medicamento e eventos adversos que o medicamento poderia causar, sua interação com outros fármacos e a importância de cumprir o tratamento farmacoterapeutico.
Com relação à prática da dispensação de medicamentos nas farmácias ou drogarias, foram coletadas informações sobre: data da última visita, local da compra ou aquisição (setor público ou privado), responsável pelo atendimento (farmacêutico, balconista, outros), e se os medicamentos dispensados haviam sido indicados por um médico. Também foi questionado se o dispensador havia feito perguntas sobre possíveis alergias medicamentosas e se o paciente estava fazendo uso de algum outro medicamento, assim como foi explorado se o mesmo havia orientado sobre possíveis problemas que o medicamento poderia causar, bem como possíveis interações com outros fármacos.
Este trabalho teve como critérios de inclusão usuários entre 18 e 60 anos de idade, de ambos os sexos e que residam entre os bairros Narciso Gomes, Jardim XI de Agosto, Vila São Jorge e Parque Industrial, mas por outro lado, usuários com dificuldade de compreensão e interpretação do teste, menores de 18 anos e maiores de 60 anos de idade foram excluídos da pesquisa.
RESULTADOS
Foram entrevistados 100 usuários entre 18 e 60 anos de idade, porém, 38 desses, não cumpriam os requisitos necessários para inclusão na pesquisa, ou seja, por não residirem nos bairros selecionados pelo presente estudo e por não estarem entre a faixa etária de 18 a 60 anos de idade.
Entre os participantes, 85,4% eram do sexo feminino e 14,6% masculino, sendo a faixa etária predominante a de 28 a 38 anos. Dos participantes, 27,4% relataram possuir algum tipo de doença crônica, sendo as principais diabetes, bronquite, hipertensão, asma e fibromialgia (Figura 1). Observou-se também que 17,7% possuíam plano de saúde (Figura 2), sendo, a maioria destes conveniados ao São Luís Saúde (58,3%), seguidos de Unimed (33,3%) e Pró-Saúde (8,4%).
Ao analisar os dados relativos à última consulta médica, nota-se que em 69,3% das visitas feitas ao médico, o paciente saiu do consultório com uma prescrição medicamentosa (Figura 3).
Sobre a aquisição de medicamentos, pode-se notar, que o balconista foi o maior responsável pela dispensação dos medicamentos (50%), seguido do farmacêutico (48,4%) e outros (1,6%). Entre os “outros”, destacam-se os estagiários e auxiliares de farmácia aprovados por concurso público (Figura 4).
Todos os participantes afirmaram que os medicamentos adquiridos foram prescritos por médico. Observou-se que a dispensação ocorreu principalmente no setor público (91,9%) e em 85,0% dos casos, os medicamentos adquiridos era para uso próprio (Figura 5).
Quanto ao processo de orientação e informação sobre os medicamentos do ato médico, 51,6% dos usuários, afirmaram que o médico fez perguntas sobre manifestações anteriores de quadros de alergia por medicamentos e 53,2% sobre a possibilidade do indivíduo estar usando outras medicações. Também observou que os médicos orientaram em 79,0% das ocasiões sobre a forma correta do uso dos medicamentos, em 58,1% sobre a importância de cumprir o tratamento farmacológico, e em 41,9% das situações informaram sobre as possibilidades de surgimento de reações adversas durante o tratamento (Figura 6).
Durante o processo da dispensação 43,5% dos casos, o dispensador perguntou sobre a possibilidade de o indivíduo ter algum quadro alérgico na vida, em 37,1% se ele estava tomando outros medicamentos, 91,9%, orientaram sobre a maneira correta de usar o medicamento, 45,2% alertaram sobre os possíveis efeitos adversos e 77,4% informaram sobre a importância de cumprir o tratamento farmacológico (Figura 6).
Nos casos nos quais não ocorreu repasse das informações e orientações por parte dos médicos e dos dispensadores, os pacientes também não tomaram a iniciativa de perguntar sobre os assuntos citados acima, correspondendo a 75,8% (Figura 7).
DISCUSSÃO
As doenças crônicas não transmissíveis representam um problema de saúde de grande importância no Brasil, e compõem mais de 70% das causas de morte e perda da qualidade de vida. Atinge indivíduos de todos os perfis econômicos e, de maneira mais intensa afeta mais as pessoas de baixa renda por estarem mais expostas aos fatores de risco e por terem menos acesso aos serviços de saúde7. Além da mortalidade, as doenças crônicas são responsáveis por grande número de internações8.
Este estudo aponta que apenas 27,4% dos entrevistados relataram algum tipo de doença crônica. O monitoramento da prevalência dessas doenças é primordial para definição da política de saúde voltada para prevenção desses agravos, tornando-se necessário a presença da assistência médica e farmacêutica, seja no setor público ou privado.
Em uma pesquisa nacional realizada em 2008, detectou que 25,9% da população brasileira, ou seja, 49,2 milhões de pessoas dispunham de pelo menos um plano de saúde, sendo este número maior nas áreas urbanas (29,7%). As Regiões Sudeste e Sul registraram os maiores percentuais de coberturas por planos de saúde sendo eles de 35,6% e 30,0%, respectivamente9.
De acordo com dados obtidos através desta pesquisa, observou-se que apenas 17,7% dos entrevistados possuíam cobertura de plano de saúde, sendo possível observar que a procura pelo atendimento público, ainda é grande, com 82,3% dos casos.
O baixo índice de posse de plano de saúde nas regiões brasileiras também foi constatado por RIBEIRO et al. (2006)10, destacando-se neste estudo que a região com menor posse é a região Nordeste, que para cada 21 pessoas sem plano, há uma com plano.
No Brasil, o SUS foi criado pela Constituição Federal de 1988, e institucionalizado pela Lei Orgânica da Saúde 8.080, de 19 de setembro de 1990, determinando acesso universal, integral e gratuito a toda a população e permitindo a livre atuação do setor privado. Para o SUS, todo cidadão é igual perante a lei e deve ser atendido de acordo com suas necessidades, oferecendo mais a quem mais precisa e contribuindo para a diminuição das desigualdades existentes4.
Em um trabalho publicado recentemente, a elevada procura pelo SUS também foi constatado, onde estes justificaram essa grande procura pelo sistema público devido as transformações sociais e econômicas pelas quais passa o país, em que existe uma nítida perda do poder aquisitivo das famílias aliada aos altos preços dos planos de saúde5.
Entre os participantes desta pesquisa verificou-se que 85,4% dos entrevistados eram do sexo feminino e 14,6% desses pertenciam ao sexo masculino, e grande parte dessas pessoas saíram do consultório médico (tanto no setor público, quanto no setor privado) com uma prescrição medicamentosa (69,3%).
O número de medicamentos prescritos tem um importante efeito sobre a adesão do tratamento pelo paciente, onde, quanto maior o número de medicamentos, mais baixa é a adesão pelo mesmo. Pacientes com mais conhecimento sobre o medicamento prescrito, parecem aderirem mais facilmente o tratamento, do que aqueles com menos informação11.
Em um estudo realizado nas farmácias da rede pública no município de Vargem Bonita/SC a prevalência de usuários do gênero feminino também foi constatada. Eles sugerem que a menor procura por serviços de saúde pela população do gênero masculino se deve, entre outros fatores, a uma questão cultural. Neste estudo verificou-se também, que 20,0% dos usuários receberam informações sobre reações adversas e 17,0% foram indagados sobre o uso de concomitante de outros medicamentos. Este dado foi relativamente baixo quando comparado ao presente estudo que aponta índices maiores de 50,0% em ambas situações12.
Dados evidenciados neste estudo deixa claro que durante a consulta médica, o médico questionava, na maioria das vezes, o paciente sobre reações alérgicas (51,6%) e se o paciente estava fazendo uso de outro medicamento (53,2%). Essas informações são fundamentais para melhor direcionar a escolha da nova terapêutica, evitando assim expor o paciente a efeitos adversos ou até mesmo a riscos desnecessários.
Com relação à avaliação médico-paciente durante o processo de prescrição, foi possível notar que o médico orientou grande parte dos pacientes sobre a forma correta de usar o medicamento (79,0%) e sobre a importância de se cumprir o tratamento até o fim (58,1%). Mas por outro lado, o médico não orientou sobre os possíveis efeitos adversos (51,6%).
Estes dados também foram analisados por PORTELA et al. (2008)13 que efetuou um estudo onde observou-se que 53,8% dos pacientes não tiveram nenhum conhecimento sobre o nome do medicamento prescrito. Do mesmo modo que 25,4% dos pacientes entrevistados não tinham nenhum conhecimento do horário de utilização dos medicamentos e em 94,4% responderam desconhecer ou não terem sido informados sobre a possibilidade do aparecimento de reações desagradáveis.
Para uma melhor qualidade na relação médico-paciente é necessário que haja a prática do atendimento continuado, onde é necessário que o médico possua conhecimento e interesse sobre seu paciente, diminuindo assim o abandono ao tratamento14. Além disso, é necessário equipes multiprofissionais de saúde devidamente treinadas e capacitadas para responder as necessidades de saúde dos indivíduos e populações, constituindo assim uma estratégia imprescindível à pratica de cuidados primários a saúde15.
As atividades de seleção, programação, aquisição, armazenagem e distribuição desses medicamentos no SUS são realizadas pelo farmacêutico, o qual consiste na descentralização da gestão, promoção do uso racional de medicamentos, otimização e na eficácia do sistema de distribuição no setor público e no desenvolvimento de iniciativas que possibilitem a redução nos preços dos produtos, viabilizando, inclusive, o acesso da população aos produtos no âmbito do setor privado16.
A dispensação de medicamentos tem como objetivo garantir a entrega do medicamento correto ao usuário, na dosagem e quantidade prescrita, com instruções suficientes para seu uso correto e seu acondicionamento, de modo a assegurar a qualidade do produto. É um dos elementos vitais para o uso racional de medicamentos17.
A implantação da Atenção Farmacêutica é uma estratégia para assegurar a qualificação e a humanização do atendimento dos usuários. A Política Nacional de Medicamentos conceitua o uso racional de medicamentos como:
O processo que compreende a prescrição apropriada; a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis; a dispensação em condições adequadas; e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade18.
Cada farmacêutico possui certa flexibilidade para adaptar a prática da Atenção Farmacêutica à sua realidade, usar seus próprios recursos e habilidades, e a qualidade dos resultados se mede diretamente pela melhora da qualidade de vida proporcionada ao paciente. A Atenção Farmacêutica humaniza e amplia a relação entre profissionais e pacientes, prevê um cuidado integrado com o paciente, exigindo do farmacêutico uma postura e uma escuta diferenciada diante do paciente, para que este possa identificar as necessidades, analisar a situação e tomar decisões19.
Segundo a OMS, medicamentos essenciais são aqueles que “satisfazem às necessidades de saúde prioritárias da população, os quais devem ser selecionados por critérios de eficácia, segurança, conveniência, qualidade e custo favorável. Eles devem estar acessíveis em todos os momentos, na dose apropriada, a todos os segmentos da sociedade”20.
O SUS avançou consideravelmente nos últimos anos na organização de programas com a finalidade de garantir o acesso da população a medicamentos. No entanto, há uma série de dificuldades para a população e órgãos de controle da administração pública quanto à informação de quais medicamentos podem ser encontrados e em quais condições são prescritos e dispensados nos serviços de saúde do SUS4.
Em um estudo realizado por BOING et al, (2013) observou-se que apenas 45,3% das pessoas que têm medicamentos prescritos em consultas no sistema público os obtêm integralmente no próprio SUS.
Com relação às informações sobre a última aquisição de medicamentos, verificou que 91,9% dos entrevistados adquiriram seus medicamentos no setor público satisfazendo às necessidades de saúde prioritárias da população. Dados esses que também demostram que a dispensação de 50,0% dos entrevistados foi efetuada pelo balconista. Isso acaba sendo um fator preocupante pois, segundo a Lei nº 5.991/73 que dispõem sobre o controle de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos deixa claro quanto a responsabilidade técnica do farmacêutico em tempo integral do estabelecimento. Assim como a RDC 357 de 20 de abril de 2001- CFF estabelece “Toda a farmácia ou drogaria contará obrigatoriamente, com profissional farmacêutico responsável, que efetiva e permanentemente assuma e exerça a sua direção técnica, sem prejuízo de mantença de farmacêutico substituto, para atendimento às exigências de lei”.
Embora a maior parte dos participantes não tenham sido atendidos por um farmacêutico, o dispensador, na maioria das vezes, questionou sobre a possibilidade de algum quadro alérgico (56,5%) e sobre uso de algum outro medicamento (37,1%). Também orientou sobre a maneira correta de usar o medicamento (91,9%), alertou sobre os possíveis efeitos adversos (45,2%) e informou sobre a importância de cumprir o tratamento ate o fim (77,4%).
Isso também foi evidenciado por estudo, que em um estudo realizado em três drogarias na cidade de Mongaguá – SP, constatou-se que 68% dos entrevistados não receberam qualquer orientação do farmacêutico sobre o medicamento no ato da aquisição. Este fato acaba sendo muito prejudicial, pois a atenção farmacêutica é uma das últimas oportunidades de, ainda dentro do sistema de saúde, identificar, corrigir ou reduzir possíveis riscos associados à terapia medicamentosa22.
O estudo também aponta que a maioria dos pacientes não questiona o médico sobre o tratamento, dificultado o seu entendimento sobre a farmacoterapia. É necessário conscientizar os médicos que os pacientes necessitam de orientações claras sobre uso dos medicamentos, riscos de interação medicamentosa bem como reações adversas.
CONCLUSÃO
De acordo com o presente estudo, pode-se observar que a demanda de pessoas que buscam o setor público nesta região é alto. Porém, observou-se que a qualidade do atendimento médico e farmacêutico não ocorre de forma integral. Os resultados obtidos revelam baixos índices no processo de prescrição correta e orientação ao paciente por parte dos médicos, e profissionais da farmácia, no que diz respeito à assistência farmacêutica. É necessário que haja capacitações, treinamentos e palestras para conscientização desses profissionais, garantindo uma melhoria no atendimento ao paciente, sendo primordial que ocorra melhorias nos aspectos éticos e no atendimento, social. A inserção, desde cedo dos futuros profissionais na realidade do SUS é um dos caminhos e está sendo incentivada pelo governo23. É necessário, que haja um maior compromisso entre médicos e farmacêuticos, os quais devem trabalhar em equipe, com o objetivo de proporcionar uma farmacoterapia segura, necessária e eficaz. É interessante ressaltar também, a importância de se implantar cursos sobre a boa prescrição médica e o uso racional de medicamentos. No Brasil, deve haver maiores investimentos no setor público, por parte dos governantes, para melhorar a condução dos programas de assistência farmacêutica nas unidades de saúde e a presença do farmacêutico em todas as unidades de dispensação de medicamentos conforme previsto em legislação vigente.
Conflito de interesses: Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
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