Rev. OFIL 2017, 27;1:99-100
Fecha de recepción: 20/07/2016 – Fecha de aceptación: 25/07/2016
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Tomás M1, Vieira M1, RTS Araujo A2, Morgado M3
1 Mestre em Ciências Farmacêuticas. Faculdade de Ciências da Saúde. Universidade da Beira Interior. Covilhã (Portugal)
2 Doutor em Ciências Farmacêuticas. Escola Superior de Saúde. Instituto Politécnico da Guarda. Guarda (Portugal)
3 Licenciado em Ciências Farmacêuticas. Mestre em Biotecnologia. Doutor em Biomedicina. Especialista em Farmácia Hospitalar. Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar Cova da Beira – Hospital Universitário. Covilhã (Portugal)
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Correspondencia:
Manuel Morgado
Centro Hospitalar Cova da Beira–Hospital Universitário
(Serviços Farmacêuticos )
Covilhã (Portugal)
Correo electrónico: manuelaugustomorgado@gmail.com
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Sr. Director:
A reconciliação terapêutica (RT) é um processo pelo qual os profissionais de saúde, em colaboração com os doentes, familiares e outros prestadores de cuidados garantem o acesso a informações precisas e completas sobre a medicação durante a transição entre cuidados1.
Inicialmente é feita uma revisão abrangente de todos os medicamentos que um doente está a tomar, segue-se a identificação e resolução de discrepâncias e por fim procede-se à comunicação de alterações da medicação que são necessárias, devendo ficar registadas no processo do doente1.
A RT envolve a criação e manutenção de uma lista completa e atualizada, contendo toda a medicação prescrita, bem como a dose, frequência e via de administração.
A reconciliação da medicação consiste na identificação de discrepâncias (omissão, frequência, dosagem ou via incorretas, medicação não necessária) quando os doentes são internados, na alta, ou ainda no contacto regular com o doente após a alta, a fim de melhorar a utilização da medicação feita pelo próprio doente em casa. Assim, deve ser feita uma revisão completa da medicação na admissão, alta e transferência entre serviços.
Quando uma pessoa é hospitalizada há uma alteração do regime habitual de medicação feita no domicílio, sendo muitas vezes instituídos tratamentos complexos e potencialmente duplicativos, daí ser fulcral fazer a RT no momento do internamento.
Aquando da alta, a falha na identificação de lacunas relacionadas com a medicação, redundâncias e potenciais interações deixam os doentes em risco de ter de recorrer novamente ao hospital. As readmissões hospitalares representam graves problemas, quer a nível clínico quer a nível económico, que poderiam ser reduzidas com uma revisão completa da medicação na altura da alta médica2.
O recurso a sistemas informáticos facilita o acesso ao perfil terapêutico e uma intervenção mais adequada1.
Existem algumas barreiras que dificultam o processo de RT nomeadamente a curta duração das consultas, o que faz com que durante a consulta os médicos não tenham tempo para fazer uma revisão completa da medicação; a dificuldade na recolha de informação acerca de toda a medicação que o doente toma por falta de conhecimento dos cuidadores ou confusão dos próprios doentes; o envolvimento de vários prescritores e a falta de comunicação entre eles; investimento em recursos tecnológicos que facilitem o processo.
Com o envelhecimento da população e a melhoria dos cuidados de saúde, muitas vezes os doentes apresentam mais do que uma doença crónica e, consequentemente, são muitas vezes polimedicados. Os doentes com diabetes mellitus (DM) têm frequentemente outras patologias concomitantes, sendo, por isso, particularmente importante fazer a RT nestes doentes.
A DM está associada a uma elevada morbilidade e mortalidade e a custos significativos que são um grande encargo para o sistema de saúde3.
Neste estudo procedeu-se, através de uma revisão da literatura, à avaliação da importância dos farmacêuticos na RT em doentes com DM e como as suas intervenções/recomendações podem resultar na melhoria dos outcomes clínicos e económicos.
Para a realização deste estudo foi efetuada uma pesquisa na base de dados PubMed, em Abril de 2016, utilizando as palavras-chave pharmaceutical reconciliation diabetes, a qual conduziu à obtenção de 4 artigos publicados nos últimos 3 anos (2013-2015)1-4.
Num questionário feito aos doentes verificou-se que numa escala de 1 a 5, sendo que 1 representa “completamente em desacordo” e 5 “concordo plenamente”, atribuíram “concordo” à questão “aprendi algo novo sobre a minha terapêutica” e “concordo plenamente” quando questionados sobre a importância de ter uma lista atualizada da medicação. Desta forma, a RT contribui também para a literacia em saúde1.
Num dos estudos, os farmacêuticos fizeram várias intervenções em 93 doentes crónicos e 4 desses doentes foram referenciados pelo farmacêutico por motivos de RT3.
Tomas et al. verificaram que um programa informático possibilitou uma poupança de 7,9 minutos na consulta médica (± 2,49), uma vez que facilitava a recolha de informação1.
Num estudo realizado por Henry et al., foi observado que, no grupo de intervenção, os custos farmacoterapêuticos foram 35% mais baixos3.
Numa sensitivity analysis, onde se comparou o grupo controlo e o grupo de intervenção após 180 dias de follow-up, tendo em conta a raça, a história clínica de DM e os níveis de hemoglobina glicada A1c (HbA1c) iniciais, foi verificado que o grupo de intervenção apresentou uma tendência para apresentar custos da terapêutica medicamentosa mais reduzidos4.
A nível clínico verificou-se, também, que o grupo controlo apresentava um nível de glucose 188,0 mg/dL e que o grupo de intervenção apresentava um nível de glicémia 163,2 mg/dL (p=0,19)4. Verificou-se uma diferença aritmética, embora não significativa possivelmente por se tratar de uma amostra pequena (73 doentes no grupo controlo e 28 doentes no grupo de intervenção).
Verificou-se que as recomendações mais aceites por parte dos médicos se relacionavam com interações medicamentosas ou reações alérgicas, enquanto que os possíveis erros de medicação eram raramente aceites2. Apenas 48% de todas as recomendações foram aceites por médicos hospitalares e não houve impacto sobre a utilização de cuidados de saúde 90 dias após a alta2. Este estudo sugere que as recomendações dos profissionais de cuidados de saúde (onde estão incluídos os farmacêuticos) foram subutilizadas e que a baixa taxa de aceitação pode ter diminuído as hipóteses de reduzir possíveis readmissões hospitalares2.
Num outro estudo foi relatado pelo menos um problema relacionado com a medicação em 57% dos doentes, com uma média de 2,6 (±1,5) por doente e que através RT efetuada por uma equipa multidisciplinar foi possível reduzir as discrepâncias de medicação em 50%1.
A intervenção de uma equipa multidisciplinar constituída por médicos, enfermeiros, técnicos de farmácia e farmacêuticos na gestão da medicação e o estabelecimento de protocolos permitem melhorar o estado de saúde global de doentes crónicos, nomeadamente diabéticos.
Os farmacêuticos estão numa posição privilegiada para assegurar a gestão efetiva da terapêutica pela acessibilidade aos doentes, médicos e enfermeiros. A posição estratégica do farmacêutico permite uma melhoria da qualidade, eficácia e segurança da terapêutica e a promoção da adesão à terapêutica e literacia dos doentes.
As recomendações dos farmacêuticos contribuíram para a redução das discrepâncias e problemas relacionados com a medicação, melhoria dos outcomes clínicos, traduzindo-se na diminuição dos níveis médios de glicose, redução dos custos para o serviço de saúde e acesso mais rápido ao historial terapêutico de cada doente aquando da recolha da informação na consulta médica.
Conflito de interesses: Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
Bibliografia
1. Tomas M, Crown N, Borschel D & McCarthy L. MedIntegrate: Incorporating provincially funded community pharmacist services into an ambulatory internal medicine clinic to enhance medication reconciliation. Canadian Pharmacists Journal: CPJ = Revue Des Pharmaciens Du Canada: RPC, 147(5),300-6(2014).
2. Anderegg SV, Demik DE, Carter BL, Dawson JD, Farris K, Shelsky C & Kaboli P. Acceptance of recommendations by inpatient pharmacy case managers: Unintended consequences of hospitalist and specialist care. Pharmacotherapy. 33(1),11-21(2013).
3. Henry TM, Smith S & Hicho M. Treat to goal: impact of clinical pharmacist referral service primarily in diabetes management. Hospital Pharmacy. 48(8),656-61(2013).
4. Shaya FT, Chirikov VV, Rochester C, Zaghab RW & Kucharski KC. Impact of a comprehensive pharmacist medication-therapy management service. Journal of Medical Economics. 18(10),828-837(2015).
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